PROÊMIO DO LIVRO "DISTÚRBIOS DA SEXUALIDADE"
“Para o dileto e especial amigo, culto e
doutrinariamente correto CARLOS EDUARDO DA SILVA, que, por certo, está no Mundo
Espiritual trabalhando intensamente e nos incentivando a persistir na luta pela
divulgação dessa Doutrina Consoladora”.
...UMAS PALAVRAS INICIAIS:
COMO NASCERAM ESTES ESTUDOS
O
ano era o de 1986. Estávamos em pequeno hotel situado “do outro lado do Rio
Tietê” em pequena e aprazível cidade do interior do Estado de São Paulo na
região de Jaú (que omitiremos o nome para não constranger ninguém), acordando
cedo para mais um simpósio espírita que se realizaria naquela cidade.
Desde 1984,
vínhamos sendo convocados pelo denodado dirigente do Departamento Federativo da
Federação Espírita do Estado de São Paulo, Carlos Eduardo da Silva, a realizar
um verdadeiro ‘périplo’ por esse imenso território paulista, navegando nas
águas da Doutrina Espírita, abordando um tema “novo” e que causava tanta
curiosidade e necessidade de aclaramento: Sexo e Reencarnação, com um destaque
para a homossexualidade. Não raro, ele sugeria que se abordasse a correlação do
assunto com a Mediunidade, o que, no mais das vezes, esse aspecto competia a
outros palestrantes nos eventos.
Essa
“vilegiatura” se espraiou por várias cidades, que patrocinavam encontros, simpósios
e pinga-fogos. Nossa memória (e alguns cartazes que ainda guardamos) destaca:
Catanduva, Tatuí, Cafelândia, Sumaré, Bilac, Boituva, Socorro, Jundiaí,
Campinas, Tietê, Tapiratiba. Além, é claro, daquela a que nos referimos ‘do
outro lado do Rio Tietê’ e que foi palco do que queremos aqui nos referir.
Parênteses:
Carlos Eduardo da Silva foi dirigente do Departamento Federativo da FEESP, mais
tarde diretor da Área Federativa dela, brutal, trágica e lastimavelmente
desencarnado após sair de uma palestra no Bairro do Ferreira, Capital de São
Paulo, palestra essa que nos competia, mas que uma viagem profissional urgente
nos impossibilitou.
O Carlos
Eduardo, muitas vezes convocava para desenvolver os temas correlatos a que
acima abordamos um outro palestrante para essa vilegiatura interiorana, além
das dezenas de palestras nas Casas espíritas da Capital, tais como (dos que nos
lembramos) Airton Luiz Borges, Álvaro Mendonça, Clodoaldo de Oliveira Melo,
Dirceu Lüttke, João Martins Garcia, Leonardo Jacob Klein, Simão Pedro de Paula
Braga, Zuleika M. Schaffer, João Batista do Valle (depois diretor de Ensino),
Semi Anis Smaira, Manuel Portásio de Oliveira Filho, Marina De Lucca e tantos
outros.
Em
cada encontro, simpósio ou pinga-fogo de que participávamos, íamos aperfeiçoando
o tema, a que passamos denominar “Distúrbios da Sexualidade”, acrescentando
novos argumentos, novas pesquisas, novos enfoques e, em suma, tentando tornar
cada vez mais claro o assunto, sempre à luz da Doutrina Espírita.
Quando
chegamos ao local do evento na cidade mencionada, o auditório estava lotado,
demonstrando o interesse pelo assunto que fora anunciado em rádio, cartazes e
faixas em que o Carlos Eduardo e nós iríamos palestrar e debater com o público
durante quase três horas.
Feitas
as palestras, com ligeira interrupção entre uma e outra, o coordenador dos
trabalhos, dirigente da Casa Espírita que patrocinava o evento, abriu os
debates para o público. Preferiu-se o encaminhamento de perguntas diretas e
pessoais, com respostas imediatas, ao invés das perguntas escritas.
Aí
aconteceu o inusitado: logo após a resposta afirmativa com os devidos
aclaramentos à pergunta de uma mulher, que se identificou com médium de uma
Casa Espírita, sobre se o homossexual poderia freqüentar o Centro e nele vir a
trabalhar, levantou-se um senhor na primeira fila e disse, em voz alta e
alterada, mais ou menos o seguinte: Sr. Carlos, só se isso for lá na Federação,
pois na minha casa espírita homossexual não tem lugar! Veja lá se faz sentido
ele se dispor a dar passe... com quê moral?! Isso, então, jamais, nem pensar!
Houve
um silêncio geral, seguido de ligeiro vozerio no plenário.
Carlos
Eduardo, sem se deixar abalar, primeiro perguntou ao coordenador da mesa quem
era o manifestante, ao que fomos informados: era o Presidente de uma Casa
Espírita local.
Ambos trocamos
um olhar de indignação e o Carlos disse: Gabilan, o assunto é com Você... Pode
responder que, se necessário, eu intervenho.
Levantamo-nos
lentamente pedindo o microfone que estava mais longe da mesa literalmente
‘viajando’ pelo plenário (como artifício para dar tempo a alguma reflexão),
interregno suficiente para interiormente pedirmos socorro ao Plano Espiritual
para ajudar-nos nesse momento difícil para uma resposta convincente.
O “socorro do
Alto” veio de pronto, com certeza, pois que nem de leve tivemos o ensejo de
refletir no argumento que saiu aos borbotões da nossa boca. Falamos,
pausadamente e com uma voz serena que nem de longe possuímos, mais ou menos o
seguinte, sob o olhar percuciente e de apoio do Carlos Eduardo: Querido Amigo,
soubemos que o Senhor é o Presidente de uma Casa Espírita com representantes e
trabalhadores aqui presentes; queremos propor ao plenário que venha a acatar
sua proibição após o Senhor nos responder devidamente e sem rodeios, das suas
próprias palavras aqui ditas, o que entende por: MINHA, por CASA ESPÍRITA, e,
afinal, por HOMOSSEXUAL. Ele respondeu: minha, porque lá sou o Presidente, a
autoridade atual e posso proibir quem eu entender que se ponha contra os
interesses dela; Casa Espírita porque lá professamos a doutrina Espírita; e
Homossexual porque lugar de pervertido não é lá...
Alarido geral.
Foi pedida calma aos presentes e aí veio a ‘nossa’ resposta: em primeiro, achamos que o
seu possessivo MINHA é descabido, indevido e impertinente, pois que o Senhor,
naquela Casa, está (enfatizamos)
presidente e, portanto, é simples e transitório dirigente administrativo, para
cumprir dispositivos jurídicos e estatutários, que determina um representante
legal; jamais essa circunstância lhe dá o direito de propriedade sobre ela,
muito menos discricionário, fazendo defecção de pessoas, proibindo quem lhe
aprouver de lá adentrar; repetindo, o Senhor está presidente da Casa pelo voto dos seus companheiros, não por
escritura pública ou ato de cessão de qualquer direito além dos estatutários,
que, por certo, não lhe outorga direitos insólitos; no mínimo, deveria ouvir a
comunidade frequentadora do Centro sobre tal medida de tão graves reflexos. Em
segundo, CASA ESPÍRITA não se enquadra nos moldes que o Senhor pretendeu
imprimir; ao contrário, lá deverá ser
-- para estar em conformidade com
a Doutrina Espírita -- um lugar, antes
que nada, de Fraternidade, Amor, conforto, acolhimento, atendimento e
consolação, não só para com os desencarnados, mas principalmente com os
encarnados, seja quem forem; agindo com discriminação, ficam afastados os
sentimentos que devem estimular uma Casa de Caridade e nega o preceito
evangélico inarredável do incondicional Amor ao Próximo. Por último, o Senhor
inadvertidamente jogou na vala comum todas as criaturas que achou serem
homossexuais, e nem estes mereceriam esse tratamento; ou não entendeu nada do
que aqui se discutiu ou não quis entender, fazendo uma barreira mental
inaceitável. Aqui se discorreu sobre vários aspectos da sexualidade humana,
suas características próprias nem sempre homossexuais propriamente ditas, todas
com profundas raízes espirituais. Queremos perguntar, sem que o Senhor precise
responder, se lá na “sua”
(enfatizamos novamente) Casa Espírita não entram alcoólatras, não entram
viciados e dependentes químicos, não entram prostitutas, não entram aleijados,
não entram divorciados ou separados, não entram portadores de doenças venéreas,
não entram, enfim, obsedados atormentados por quaisquer afecções da alma? E
mais: não acreditamos que qualquer pessoa chegue à “sua” Casa Espírita e diga,
inopinadamente, que está ali para dar passes... Por certo, ela terá de ser
primeiro assistida espiritualmente, segundo harmonizar-se física e espiritualmente,
quarto aprimorar-se em estudos, quinto entender porquê, como e para quê doar-se
no passe... E isso deverá acontecer também com o ser distônico sexual, se ele
se conformar em trilhar esse caminho para a tarefa mediúnica e do passe na Casa
Espírita. E, por último, Senhor, em nome da Fraternidade e do Amor ao Próximo,
estamos sendo inspirados a dizer-lhe que sejam viciados, sejam alcoólicos,
sejam doentes mentais, sejam decaídos, sejam abandonados, sejam prostituídos,
sejam intersexuais, sejam transexuais, sejam homossexuais --
sejam heterossexuais que no seu ver, aparentemente tudo podem entre
quatro paredes --, todos, absolutamente todos, são CRIATURAS IMORTAIS, como
nós, como todos aqui e como o Senhor também. Como tais devem e devemos ser
tratados. Que Deus nos ampare a todos e que os seus amigos espirituais e
guardiães o ampare e ilumine hoje e sempre.
Após essa ‘fala’,
o nosso interlocutor se retirou do salão. Mas, graças a Deus, nos esperou na saída,
juntamente com outros trabalhadores, quando nos abraçamos e choramos todos. E
partimos para um fraterno almoço.
Nesse dia, o
Carlos Eduardo nos encomendou: escreva algo sobre o tema, urgentemente. Acedendo
ao comando, iniciamos escrevendo uma apostila, que inserimos em diversos cursos
intensivos de Doutrina. Mais tarde, e sempre adicionando novos fatos, novos
enfoques, decidimos pelo texto que ora nos estimulamos a encerrar em livro. Esperamos
que ele colabore para uma melhor compreensão dessa problemática humana.
Ansiosos, nos
permitimos antecipar uma frase que foi construída ao largo desses anos para as
palestras públicas sobre o tema e que deveria ser uma conclusão do livro, mas
que preferimos imprimi-la desde já, como página de prefácio:
Antecipando a CONCLUSÃO:
As forças sexuais pertencem à ALMA,
ao ESPÍRITO, onde está a SEDE
DO INSTINTO SEXUAL; por isso, quando um SER apresenta
qualquer desvio ou distúrbio, pode o ESPIRITISMO
tratar esse Ser fundamental, aclarando-o, amoldando suas forças
criadoras, livrando-o de processos obsessivos, e fazendo que ele use de sua
sexualidade como PORTA DA REENCARNAÇÃO,
como TROCA DE ALIMENTO ESPIRITUAL,
DE ENERGIAS CRIADORAS
(permuta de raios psíquico-magnéticos), e como INSTRUMENTO
DE EVOLUÇÃO.
Francisco Aranda Gabilan
Santana
de Parnaíba, Outono de 2009.
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