IDOLATRIA
IDOLATRIA
“Não vos façais,
pois, idólatras”
Paulo, I Coríntios, 10:7
No sentido
mais geral, idolatria significa o ato de prestar culto divino a criaturas, mas
se vulgarizou como a adoração aos ídolos. Ídolo, no sentido que aqui será
abordado, é a estátua, a figura, a imagem que representa uma divindade e que é
objeto de adoração.
No
passado remoto, especialmente antes e ao tempo de Jesus, os povos, com exceção
dos hebreus, eram politeístas e, em conseqüência, idólatras, pois que adoravam
toda a sorte de divindades, elegendo um deus para cada circunstância,
necessidade, ou desejo da vida: por exemplo, chuva, vento, fogo, riqueza,
beleza, colheita, amor, sexo e dezenas ou centenas de outros.
Parece
incrível que passados milênios -- e mais especialmente depois da mensagem clara
e precisa do Cristo da existência de um Criador, em tudo e por tudo conceituado
como causa fundamental de todas as coisas, ou, como quer a ciência moderna, o
princípio fundamental do Universo, o “agente estruturador” ou “agente atuante”
inicial -- ainda as criaturas precisam de símbolos e
imagens materiais para expressar a “sua fé”. Colocamos entre aspas, porquanto
fé não é crença mística em qualquer objeto, mas a confiança que se tem na
realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim, movimentada pela
vontade de atingi-lo; e ainda: ter apoio na inteligência (alijando o
misticismo) e ter apoio na compreensão das coisas e das causas (apoiada nos
fatos e na lógica).[1]
Ensina-nos
a espiritualidade que a adoração de imagens e objetos, os cultos exteriores
constituem-se em “venenoso processo de paralisia da alma”[2]
pois que, representa um perigo sutil através do qual “inúmeros trabalhadores
têm resvalado para o despenhadeiro da inutilidade.”
Não
se pense que os Espíritos comprometidos com a evolução e moralização dos seres
estão apenas criticando as seitas e religiões que usam da idolatria com a
intenção de manter viva a chama da fé ou a manutenção dos seus cultos. Não, os
Espíritos chamam a atenção para o fato de que no próprio meio espírita cristão,
apesar de erguida a bandeira da fé raciocinada, ainda são encontradas criaturas
“tentando a substituição dos ídolos inertes pelos companheiros de carne e osso
da experiência comum, quando chamados ao desempenho da responsabilidade
mediúnica”.[3]
Vale dizer que, muitas vezes, “as homenagens inoportunas costumam perverter os
médiuns dedicados e inexperientes, além de criarem certa atmosfera de
incompreensão que impede a exteriorização espontânea dos verdadeiros amigos do
bem, no plano espiritual.” [4]
“Criar ídolos humanos é pior que levantar estátuas destinadas à adoração. O
mármore é impassível, mas o companheiro é nosso próximo de cuja condição
ninguém deveria abusar.”[5]
A
Espiritualidade adiciona ainda que o culto das imagens nos altares de pedra é a
face mais singela do problema. Existem ídolos mais perigosos e traiçoeiros que
os homens necessitam exterminar[6]
e que lhes perturba a visão e o sentimento: o culto do imediatismo terrestre
com o propósito de atingir vantagens transitórias no campo material, a
inquietação constante e descabida, a excessiva preocupação com os insucessos e
desgostos, que levam a criatura humana a buscar na Doutrina ou na mediunidade
soluções mágicas. Isso é também uma forma corrosiva de idolatria.
A
recomendação é que alijemos de nós a idolatria de qualquer natureza (sem
converter essa luta em iconoclastia e violência, ou seja, ataques físicos a
imagens e assaques a outras crenças e religiões), mas com respeito às
convicções alheias, trabalhando na libertação da mente das pessoas pelo nosso
exemplo de edificações.
Conservemos,
pois, a luz da consolação, a bênção do concurso fraterno, a confiança em nossos
Maiores e a certeza na proteção deles; contudo, não olvidemos o dever natural
de seguir para o Alto, utilizando os próprios pés. [7]
Devemos, sim, combater os ídolos falsos que ameaçam às vezes o Espiritismo, mas
lembre-se cada discípulo de Jesus dos amplos recursos da lei de cooperação,
atirando-se ao esforço próprio com sincero devotamento à tarefa, lembrando-se
todos de que “no apostolado do Mestre Divino, o amor e a fidelidade a Deus
constituíram o tema central”.[8]
Francisco Aranda Gabilan
[1] F. A.
Gabilan, Entre o Pecado e a Evolução, pg. 53,
[2]
Emmanuel, Pão Nosso, cap. 52
[3]
Emmanuel, O Espírito da Verdade, cap. 72
[4] Idem, 2
[5] Idem 2,
cap. 150
[6]
Emmanuel, Caminho, Verdade e Vida, cap. 126
[7] Idem
[8] Idem, 2
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