Aborto: A Visão Espírita
ABORTO: A VISÃO ESPÍRITA
Os aspectos
legais, em especial as garantias constitucionais da pessoa humana, que
inviabilizam qualquer argumento favorável ao aborto, estão clara e
enfaticamente destacados em sucintas mas brilhantes razões deduzidas por uma jurista
de renome reproduzidas neste mesmo jornal. Tais judiciosas ponderações são por
nós endossadas, em especial diante da conceituação legal do que seja “vida”,
protegida como direito fundamental do Ser e que, por isso, tem de ser
necessariamente protegida e jamais sacrificada, não admitindo atentados de
nenhuma ordem.
A
visão espírita e a visão legal destacada seguem em paralelo, no mesmo sentido,
com mesmas conclusões, mas, consegue ir além: justifica as causas da existência
de uma criatura que está por nascer e também identifica as conseqüências de não
permitir que nasça ‑- para ela própria e
para todos os envolvidos no ato de impedir o nascimento.
Vejamos,
dentro dos conceitos estritos da Codificação Espírita.
Para
o Espiritismo o nascimento não é um simples acontecimento biológico, uma
simples reunião orgânica de células organizadas sob a forma de corpo humano. É
muito mais que isso: em primeiro, se trata de um renascimento, um
retorno, uma volta, uma experiência renovada, uma nova oportunidade evolutiva
para um Ser, de sorte que, se alguém renasce, é porque já existia (daí ser
tratada como reencarnação) -- Espírito
imortal que é. Em segundo, o conceito de reencarnação transcende ao simples
nascimento do corpo físico, pois que necessita de uma preparação complexa de
quem vai nascer novamente, de como o fará, em que corpo necessita fazê-lo para
evoluir, com quais pessoas (pai, mãe, irmãos) terá oportunidade ou necessidade
de vivenciar uma existência, sempre educativa, evolutiva. Terceiro, a lógica
espírita deduz que se alguém “já existe”, vem “de antes”, é um Ser em tudo e
por tudo igual quanto a direitos naturais e quanto à oportunidade de evolução;
impedir que ele (Espírito) passe pelas provas depurativas que nós todos
(encarnados) estamos tendo oportunidade de passar, com certeza se estará
cometendo um crime contra as leis naturais, pois que esse direito a evoluir
(renascendo em um corpo físico, seja ele qual for) é um direito natural.
É
oportuno perguntar-se aqui se seria lícito e ético acabar com a existência de
uma criança que já nasceu, que já tem um, três, cinco, dez anos, ou seja lá
quanto for, de idade? Alguém se atreveria a afirmar que sim?! Não,
porquanto -- afora o aspecto penal humano, do crime --
estaríamos eliminando alguém da possibilidade de viver a vida de que ele
precisa, seja entendida tal vida biológica como simples efeito da Natureza,
seja entendida tal vida como uma dádiva divina.
Pois
é esse mesmo o entendimento relativamente ao Ser que está por nascer: é uma
individualidade, é alguém que já existe, que preexiste ao corpo físico, é
alguém que subsistirá a esse corpo físico quando este vier a morrer, é imortal,
enfim! Como dizem os Espíritos (Livro dos Espíritos, questão 357), ao
responderem ao questionamento sobre quais as conseqüências que o aborto traz
para o Espírito: “É uma existência nulificada e que ele terá de recomeçar”.
Que
direito teremos nós -- pais, parentes, médicos, parteiros,
autoridades e mesmo a lei humana -- de
nulificar uma existência? Nenhum. Pois, como dizem os Espíritos ainda outra vez
(mesmo LE, questão 358), trata-se de uma transgressão à Lei Divina (leia-se e
entenda-se como a Lei Natural), e, assim, “Há crime sempre que transgredis a
lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a
vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de
passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava
formando”.
O
Espiritismo, pois, resolve questões desse tipo, contribuindo para o perfeito
entendimento das causas e conseqüências, ao estabelecer “uma ponte entre o
plano físico e o espiritual, para uma visão mais objetiva do problema” (como
afirma Richard Simonetti, Viver em Plenitude, pg. 30, dissecando a questão 358
do Livro dos Espíritos). E continua, enfaticamente: “... a partir do momento em
que o óvulo é fecundado pelo espermatozóide, surgindo o embrião, inicia-se uma
reencarnação. Um Espírito é ligado ao organismo em desenvolvimento, com a
supervisão de técnicos da Espiritualidade”... e das Leis Divinas ou Naturais,
acrescentamos.
Resta,
aqui, apenas enfrentar a questão referente ao corpo disforme (mutilado, ou
anancefálico/sem cérebro, ou portador de deficiências mentais ou físicas e
outras, que a ciência tem hoje condição de detectar com antecedência), que,
segundo alguns defensores do aborto, justificaria evitar-se o nascimento
autorizando-se o abortamento. O Espiritismo também resolve a questão com uma
lógica irrepreensível: admite o princípio de que a todo efeito corresponde uma
causa e que, portanto, se algum Ser, se algum Espírito reencarnante, se dispôs
a uma reencarnação, a uma vida física, com tais deficiências é porque isso lhe
convém como fator de evolução, de exercício da sua vontade, de suas
necessidades. As Leis Naturais não podem ser ruins nem admitem aplicação
diferenciada para os seres, mas são sempre boas e úteis para todas as
criaturas. Logo, ela não impõe esta ou aquela encarnação (como se fosse um
castigo ou um prêmio), mas permite que cada um viva a experiência de que
necessita para sua evolução mais rápida e mais eficaz.
Não
sendo o nascimento um simples acidente biológico, mas uma experiência
programada, com desígnios que escapam à percepção humana simplista, suprimir-se
a possibilidade de um Espírito vir a exercitar uma etapa da vida -- no
corpo que precisa, seja ele qual for, repita-se
-- com certeza acarretará
conseqüências graves, tais como embaraços psíquicos, desajustes, depressões e
desequilíbrios perispirituais, os quais poderão se manifestar nesta ou em
futuras existências de todos os envolvidos no ato do aborto provocado.
É
a Lei de Causa e Efeito.
E, por serem
leis naturais, divinas, são irrevogáveis, imutáveis, eternas e perfeitas e,
assim, abrigando e obrigando todas as criaturas, nascida/reencarnadas ou por
nascer/reencarnantes.
Francisco Aranda
Gabilan
inverno/2013
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