A CURA PELA FÉ
Os
seres têm três caminhos para vir ao encontro da Religião, em especial do
Espiritismo: a CURIOSIDADE, o AMOR e a DOR.
Os
primeiros: vêm, vêem, admiram-se e, na maioria, vão-se.
Os
segundos: são raríssimos.
Os
terceiros: são quase a totalidade...
Dentre
os impulsionados pela dor -- e por dor tenham-se não só as físicas, mas
sobretudo as morais e as psíquicas: angústias, aflições, amarguras,
perturbações, desequilíbrios, inquietações, intranqüilidade, exasperações,
irritações, desgostos, medos etc.
-- a grande maioria pensa que a
crença pura e simples em valores vários já significa o socorro do Alto, a
redenção, a cura e a solução dos problemas.
Senão,
vejamos.
Cristãos
de segunda hora criaram o culto da cruz: somente crer cegamente nos seus
poderes, já salvaria... Até hoje vemos templos adoradores do madeiro, que,
diga-se, é mais sinônimo de um hediondo crime que de salvação.
Cristãos
do milênio passado acreditaram piamente nos atos sacramentais para livrá-los
do mal: vestimentas, gestos, incensos, água, vinho etc.
Cristãos
reformados do meio deste milênio acreditam na salvação pelas Escrituras...
esquecendo que o Velho Testamento é a história espiritual de um povo, o judeu,
ao qual foi ajuntado fisicamente o Novo Testamento, revestido de uma capa preta
e letras douradas.
Já
hoje está em moda um misticismo arraigado: cremos nos efeitos
benéficos de medalhas, de correntes, de imagens (retorno ao Politeísmo), de
figas, de fitinhas com inscrições (nos pulsos, nos retrovisores dos carros e
até nas chapas, como verdadeiros altares, com contas e miçangas, balangandãs) e
em símbolos os mais variados.
Tudo
isso chamamos CRER, TER FÉ
-- o que nos leva a crendices
absurdas, a atos de leviandade espiritual, a desapontamentos e até a
raciocínios ridículos, tais como o fim-do-mundo, invasão de UFO´s e ET´s,
suicídios coletivos, etc.
“A
FÉ, entretanto, necessita de uma base e ESSA É A PERFEITA COMPREENSÃO DAQUILO EM
QUE SE DEVE CRER. Para crer, NÃO BASTA VER; é NECESSÁRIO, sobretudo,
COMPREENDER” (ESE, Cap. XIX, item 7).
Não
é por outra razão que os Espíritos escolheram para epígrafe do Código Moral do
Espiritismo, o Evangelho Segundo o Espiritismo, a inscrição: “SÓ É INABALÁVEL A FÉ QUE PODE ENFRENTAR A RAZÃO, FACE A
FACE, EM TODAS AS ÉPOCAS DA HUMANIDADE.” Vale dizer: a fé raciocinada
- que se apoia nos fatos e na
lógica, na razão, não deixando qualquer dúvida ou obscuridade, nem se vale da
aceitação cega. Esta, a crença cega, é que produz o maior número de incrédulos
e detratores, pois elimina o livre-arbítrio e o raciocínio; não admitindo
provas, ela impõe ao espírito humano idéias vagas e faz gerar a dúvida, e daí,
a incredulidade.
“A
crença é resultado de esforço intelectual, nasce das meditações, das
experiências por vezes amargas e dolorosas, do recolhimento e da concentração
de esforços dos poderes anímicos na pesquisa e investigação dos fatos que nos
interessam” (Vinícius, Na Seara do Mestre, capítulo A razão e a Fé à luz do
Evangelho).
Mas,
é lícito perguntar-se: é necessário compreender o quê para crer?
Primeiramente,
estar convencido de que o Criador, Deus, é a causa primária de todas as
coisas e que todos Seus atributos são infinitamente perfeitos e que dentre Suas
virtudes está ser BOM e JUSTO. Suas Leis (divinas, naturais) são ETERNAS,
IMUTÁVEIS, IRREVOGÁVEIS e PERFEITAS, logo, boas e justas para todos.
Em
segundo, estar convencido que, se Ele é o Criador de todas as coisas, nós somos
Suas criaturas e, portanto, como disse Jesus relembrando e atualizando Isaías,
nós somos deuses, Sua centelha criadora.
Terceiro,
se Ele é Bom e Justo infinita e soberanamente, nós --
suas criaturas -- não podemos ter sido criados para o Mal, para
a Dor, para sofrer.
Quarto:
Ele nos deu vidas sucessivas para nosso aperfeiçoamento, e, se nós
eventualmente sofremos algum mal, é porque algo de mau, de errado, de contrário
às leis naturais, nós fizemos.
Logo,
se nós quisermos nos curar ou livrar-nos do mal, é preciso apenas retornar ao
caminho reto da lei natural, ou seja o do Bem (pois que o BEM, por definição
precisa dos Espíritos, “é tudo o que é conforme à Lei de Deus, e o Mal é tudo
que lhe é contrário”, LE, questão 630). Como? Simples: é preciso apenas nos modificar
– interiormente, espiritualmente, escoimando vícios e defeitos e realçando as virtudes.
Façamos
uma auto-análise e uma pesquisa: se quisermos saber quem fomos no passado, em
encarnações passadas, basta vermos quem nós somos hoje, qual nossa situação...
Quando
Jesus nos disse que deveríamos crer nele para sermos seus discípulos, não disse
que essa crença seria derivada da coleção de capítulos e versículos decorados;
disse-nos sim que crer nele é praticar a caridade, a humildade, a fraternidade,
o amor ao próximo (que é o mesmo que amar a Deus), fazendo a ele o que
desejaríamos que ele nos fizesse - regra áurea do Cristianismo.
Fora
disso, a crença é estéril – é crer em vão!
Mas,
voltemos à questão original: a Fé pode ou não curar?
É
claro que sim. Não fora assim, e o próprio Cristo não teria reiteradamente
repetido aos doentes do corpo e da alma que o procuravam: “A tua Fé te curou”,
“A tua Fé te salvou” (Lucas, 7:50, 17:19, 18:42; Marcos, 10:52, 5:34, Mateus,
9:22)
Aliás,
mais que isso, Jesus advertiu aos seus discípulos que somente não curavam
porque não tinham fé,
Mas
reflitamos e compreendamos integralmente a questão, com todas suas nuanças e
condicionantes e jamais misticamente.
(PARÊNTESES:
no início deste século, as igrejas achavam que o Espiritismo lidava com o
demônio ao produzir curas. Só mais tarde descobriram que Jesus já fazia os “
milagres de curas” que os Centros produziam.
Hoje
a Igreja Romana realiza curas: renovação carismática;
Os
Evangélicos Pentecostais também: em nome do Espírito Santo;
A
Psicologia, idem: terapia de vidas passadas;
Medicinas
alternativas: em várias formas: fluidoterapia, cromoterapia, musicoterapia,
radiações etc.).
Mister,
aqui, buscar a definição: QUE É A FÉ?
«FÉ é a CONFIANÇA
que se tem na realização de uma coisa; a CERTEZA de atingir determinado fim, movimentada
pela VONTADE
de atingi-lo>>.
Para
os mais técnicos e para os memorizadores em geral daria até para arriscar uma
fórmula:
C + Cr + V = F
Onde: C =
Confiança; Cr
= Certeza; V
= Vontade; e F
= Fé
Ou
seja: Confiança (segurança) nas próprias forças;
Certeza ( convicção) de atingir determinado
fim dentro das possibilidades cármicas;
Movimentada pela Vontade (desejo sincero de
obter o objetivo).
Além
de tudo isso, tal FÉ resultante desses componentes, para ser eficaz, ativa e
coerente, é preciso ser SINCERA, ou seja: (a) ter apoio na inteligência
(alijando o misticismo) e (b) ter apoio da compreensão das coisas e causas
(apoiada nos fatos e na lógica).
Lembremo-nos
de que quando Jesus foi tocado em suas vestes e perguntou à multidão ao seu
derredor “Quem me tocou?”, frente à identificação da mulher que o fizera e que
dizia que ele poderia curá-la, o Mestre sem vacilações imediatamente lhe disse:
“Tua Fé te curou!”.
Dessa
forma, abominou qualquer misticismo: nem imagens, nem roupas, nem colares, nem
patuás, nem símbolos, nem talismãs, nem gestos teatrais, nada, pois que esses
objetos e práticas não agem como veículos da fé, mas de simples misticismo, de
desconhecimento, de fé cega, no mágico, no maravilhoso. Só a Fé sincera, sem
indutores, estribada na disposição confiante e certeza de poder curar-se, com a
vontade férrea de obter o resultado.
E
NO CASO DAS CURAS,
como age a FÉ? Pode produzir a Cura?
Necessário
fazer breves incursões sobre as doenças.
Em
primeiro, há que se ressaltar que as doenças e os males não ocorrem por acaso,
já que este não existe na criação, que, como vimos, é regida por leis naturais
imutáveis.
Logo,
pesquisar a sua etiologia é fundamental, é condição essencial para a cura: SABER A ORIGEM DAS
DOENÇAS (em gênero), e depois identificar a causa da específica que nos assola.
Para saber, um
axioma:
“NÃO HÁ EFEITO SEM CAUSA!”
Quanto às
causas das doenças, há DUAS identificáveis: PRESENTES e PASSADAS.
PRESENTES
:
Mediatas ou
Imediatas: São provocadas ou derivadas de EXCESSOS de toda ordem: fumo, álcool, extravagâncias à mesa,
entorpecentes, exageros no sexo (vícios), inveja, incúria, avareza
etc.(defeitos).
Resumo: somos
escravos de nossas próprias atitudes, que agridem.
PASSADAS:
Pretéritas:
Quando não identificamos a origem, tais como: deformidades de nascença,
idiotia, loucura, doenças congênitas, mutilações, lepra, fogo selvagem
(pênfigo), câncer etc.
Diante de tais
dores e sofrimentos, os seres sempre perguntaram: POR QUE?!
Os seres
socorreram-se de várias explicações
sobre as causa prováveis ao largo dos tempos, tais como:
1. CASTIGO de
Deus, que premia ou castiga quem ele quer. Perguntamos: E A BONDADE DIVINA
INFINITA???
2. DEUS NOS ESQUECEU. Redargüimos: E A JUSTIÇA INFINITA???
3. CONSEQÜÊNCIA DO “PECADO
ORIGINAL”. Indignação: como pagar alguém pelo erro dos outros? como
pode o pecado de alguém ser transmitido para seus descendentes? E a alegoria
desse pecado da origem! Não foi para justificar a “Trindade Divina”?
Indo para campo mais sólido, em que
impera a razão, a origem da doença pode assim ser simplificada: como
conseqüência de determinada ação desarmonizante do espírito, há reflexos no
perispírito, o qual influi sobre o corpo físico, com quem está em íntima e
permanente relação, transmitindo-lhe a desarmonia. O corpo prejudicado
apresentará a doença ou então ficará propício a adquirir aquela que vier do
exterior.
Assim,
as doenças têm quase sempre (fora os excessos e a imprevidência das ações do
dia-a-dia) origem espiritual, seja a causa derivada da presente existência,
seja de anteriores encarnações.
Conclusão:
nem castigo, nem pagando dívida de terceiros, nem desídia de Deus; pura e
simples relação de causa e efeito. Só.
Eis a
mecânica:
O perispírito e o corpo físico são matéria
e, assim, na sua origem, têm natureza fluídica.
Os Espíritos ATUAM
sobre os fluidos espirituais através do PENSAMENTO e da VONTADE.
Só o seu
pensar, produz o desejo:
basta pensar em uma coisa possível, para que esta se “produza”.
Daí os
Espíritos atuarem sobre os fluidos espirituais através do pensamento e da vontade,
como os homens manipulam os gases: imprimem aos fluidos a direção, os
aglomeram, combinam ou dispersam, organizam-nos em aparências ou formas,
coloração, mudam-lhe as propriedades...
Nós
somos os Espíritos, ainda que encarnados. Assim, ao exercitarmos a Fé sincera
em curar-nos (com Confiança em nossas próprias forças fluídicas, com Certeza de
que tal se dará se houver possibilidade cármica, ou seja, se detivermos
merecimento ou estivermos pronto para tal, tudo aliado à Vontade de sermos
curados), com certeza produziremos uma ação magnética que atuará sobre os
fluidos, modificando-os e operando o fenômeno da cura. No caso, a Vontade atua
como grande alavanca para pôr-nos em contato com os Espíritos que nos
auxiliarão, bem assim para movimentar os fluidos, e ainda para alterar os focos
perniciosos perispirituais.
Eis
aí a questão: a Fé pode curar e tal se dá dentro das leis naturais, sem
prodígios nem misticismos.
Jesus
recomendava que utilizássemos, como veículos eficazes da cura, da nossa
melhora, a ORAÇÃO
(pensamento puro, surto de amor que produz a elevação espiritual para obtermos
condições morais satisfatórias) e JEJUM (não o de alimentos, mas a abstinência de
pensamentos culposos e rasteiros).
E
nós acrescentamos que todas as doenças podem ser aliviadas, mas nem todas podem
ser curadas. Isto porque existem leis, conhecidas como cármicas, que devem ser
observadas, especialmente as de causa e efeito, de sorte que somos os pacientes
de nossas próprias transgressões às leis naturais, cujos efeitos corretivos
temos de suportar para nossa própria evolução. Mas, repetimos, se muitos de
nossos males não devem ser afastados, para o nosso próprio bem, podemos
minimizar seus efeitos e angariar forças para sermos resignados.
Assim,
a cura depende do doente, sempre: se ele pode
ser curado, se ele quer ser curado,
se ele age nesse objetivo, com
certeza o será, pois que não foi sem sentido que Jesus nos disse que nós
podíamos (e podemos!) fazer tudo o que ele fez, e ainda mais!
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